Thursday, August 31, 2006

Felicidade Clandestina

Pobre de quem nasce fadado a gostar na felicidade clandestina.
Esses estão condenados à infelicidade, insaciabilidade e insatisfação.
A felicidade clandestina depende sempre de um ato escuso, de uma pitada de perigo e ilegalidade. É desafio, é o gosto pelo bater mais forte do coração.
Essa espécie de felicidade atinge todo tipo de gente, são pessoas que não conseguem acomodar seus sentimentos, precisam sempre correr um risco.
São amantes, ouviu?
Perdem para achar, acham para perder, sofrem para rir, esquecem para lembrar e assim por diante.
Vão e voltam,
São extremamente efêmeros os dotados do gosto pela clandestina felicidade.
Essa felicidade tem um gosto tão bom, provoca uma sensação indescritível e difícil de se encontrar em outras experiências sentimentais.
Pobre de quem nasce assim ou por acaso pega esse gosto logo no começo da infância, somos todos um pouco mais infelizes, mas mal sabem todos os outros que é dessa infelicidade que extraímos o melhor de viver para e pela felicidade clandestina.

Tuesday, August 29, 2006

Em dia de amor

As veias se entupiam de dor de amor. Quanto amor Leda sentia meu Deus, quanto amor se formou em seu corpo naquele começo de noite. Não podia mais suportar aquilo que lhe pesava o ventre e por onde ela passava, deixava um rastro de amor pelo chão. Leda tinha cheiro e gosto de amor feminino.
Ela não poderia mais viver um segundo daquela maneira, era muito peso, muita dor. O maior amor do mundo. E ela era o mundo em todo seu sentido.
Desesperou-se ao perceber que poderia ter que emendar um dia no outro, não agüentou de dor, estremeceu e em fim;
menstruou na madrugada úmida de chuva.

Sunday, August 27, 2006

O nome

Núcleo íntimo nasceu rápido, prematuro, o que não determina a impossibilidade de crescer, muito menos a possibilidade, vou deixar núcleo intimo se desenvolver da maneira como ele bem quiser. Porque certamente ele não depende de mim, nem de ninguém que o lê. Depende só dele, eu crio e emancipo. Essa técnica me auxilia a escrever como outra pessoa, com a mais profunda intenção de escrever com meu eu mais íntimo, preciso me enganar para escrever por mim mesma.

Núcleo íntimo foi extraído de um trecho de livro, um fragmento de consolo escrito por Clarice Lispector.
“Ela, que é tão cheia de oportunidades perdidas. Seu verdadeiro ar é tão secreto. A trama levíssima de uma teia de aranha. Tudo nela se organiza em torno de um enigma intangível em seu núcleo mais íntimo”.