Thursday, November 23, 2006

Moscas-mortas

Tenho medo sim, qual o problema? Sou insegura e envergonhada.
Nesta sociedade em que só o sucesso é valorizado, as pessoas têm medo de assumirem suas fraquezas, diga-se de passagem, intrínsecas ao ser humano.
Pense. Se por um acaso você for gorda, a sociedade rapidamente lhe conferirá o status de fraca, pois você é incapaz de emagrecer e se adequar. As pessoas não se importam se você, simplesmente, não quer emagrecer. - Como não quer emagrecer? - Isso não existe... Existem características que a sociedade, em geral, despreza menos, como a falta de inteligência, por exemplo. Muitos homens fingem apreciar mulheres inteligentes, mas, sempre preferem as que mais lhes agradam esteticamente.
Dependendo do cluster social em que você está inserido a cultura é mais valorizada. Dentre os intelectuais, por exemplo, o excesso de beleza é que descriminado.
Independentemente do sujeito da descriminação, é certo que a sociedade é cruel. Não deixa margens para falhas. Admiro profundamente quem não se importa com a opinião dos outros, quem não se sente inseguro. Quem não tem medo e quem não tem vergonha, são menos afetados pela sociedade, que não deixa de partir pra cima do mesmo jeito, mas não os corrompe da maneira como corrompe os mais suscetíveis.
Como não pertenço ao grupo dos “não to nem ai” não sei até que ponto vai essa atitude. Não sei o que passa pela cabeça deles no momento em que pousam suas cabeças no travesseiro. O que sei é que temos que assumir mais nossas fraquezas, para que a nossa sociedade fique mais equilibrada. Detesto dar conselhos desse tipo, mas o fato é que a sociedade nada mais é do que um aglomerado de pessoas que se inter-relacionam. Ora, se essas pessoas passarem a conviver melhor com seus defeitos, a sociedade se tornará, consequentemente, mais tolerante.
O que me pergunto é, porque as pessoas não conseguem se apaixonar pelas outras? Vejo olhares cada vez mais superficiais, que deixam escapar o melhor das pessoas. Não querendo me revoltar, mas já me revoltando, não consigo entender como alguns passam pela vida como “moscas-mortas”, meros transeuntes, que jamais pararam para pensar, um só segundo, sobre o sentido de tudo isso, mesmo que depois de pensarem, venham a descobrir que, na verdade, não há sentido nenhum. Mas isso pouco importa, o que vale é o processo, os degraus.
Aí, aí, aí. Talvez esses sejam os grandes agraciados de Deus. Pensar é um fardo a ser carregado, é a certeza de um eterno desconforto, uma insatisfação constante. Às vezes queria ser totalmente fútil, volúvel, vulnerável... para ver se assim, se é mais feliz. No fundo, talvez eu inveje os “moscas mortas”.